Startup Weekend mostra como ideia vira realidade

Num cenário lúdico, o jogador é convidado a tomar decisões de investimento com base em informações financeiras reais. Os acertos dão direito a pontos para mudar de fase. E a cada novo nível, o usuário recebe sugestões de uma aplicação cujo risco é compatível com o conhecimento obtido no jogo. É essa foi a proposta da “Investgame”, a ideia vencedora do último Startup Weekend Rio, que aconteceu neste mês e foi voltado para o conceito Fintech — mistura de tecnologia e finanças para descentralizar o poder de bancos sobre o dinheiro do usuário. O desafio, agora, é transformar isso em realidade.

— Muita gente guarda dinheiro na poupança, porque tem medo de perdê-lo ao investir. Por isso, é uma ferramenta de emponderamento — explica a idealizadora Stephanie Oliveira, de 27 anos.

Para a tarefa, ela contará com monitorias — nos campos “Negócios”, “Jurídico”, “Desenvolvimento” e “Design” —, que são os prêmios dados no evento mundial, que todos os anos acontece durante um fim de semana. A edição carioca foi de 16 a 18 de setembro.

— No primeiro dia, todo mundo que tinha uma ideia pôde apresentá-la. Algumas foram selecionadas, e equipes se formaram para desenvolvê-las. Estas tiveram o acompanhamento de especialistas e, no domingo, apresentaram um protótipo — explica Fabio Cendão sobre a dinâmica do evento, sugerindo para Stephanie Oliveira: — Agora, é importante ver quem quer continuar envolvido no processo, escolher seu time. Todo investidor leva isso muito em consideração.

‘Chame alguém para trabalhar gratuitamente’

O aplicativo Easy Taxi surgiu numa edição do mesmo evento, há cinco anos. O fundador da empresa, Tallis Gomes, de 29 anos, dá uma dica para montar essa equipe.

— Chame alguém para trabalhar gratuitamente para você, desde que tenha sociedade. Convencer uma pessoa a ser seu sócio é a primeira venda do seu peixe. E a função do líder é criar um time que se complemente: metade de nós programava, metade era de negócios — aponta.

É preciso fazer testes com clientes

A ideia de Tallis não venceu o concurso. Mas ideia foi à frente. Atualmente, é líder no mercado, está presente em mais de 30 países e fora das mãos de seu idealizador, que preferiu vender a empresa e partir para novos rumos dentro do empreendedorismo.

Após vender Easy Taxi, Tallis fundou novo negócio de beleza Foto: Divulgação

O sucesso da ferramenta para pedir táxi pela internet, no celular, foi possível por ter começado da maneira certa:

—É preciso encontrar o segmento de cliente que tem uma dor para você resolver. Se encontra e valida essa dor, ou seja, vê que outras pessoas também sentem isso, aí você tem um negócio. E desenvolve uma solução — explica o coordenador de Base Tecnológica do Sebrae, Paulo Roberto de Andrade.

No campo de negócios, para pôr uma ideia em prática, além de construir uma versão mínima viável do projeto e testá-la junto aos clientes, é importante criar uma cultura de empresa que garanta agilidade e atraia talentos para o negócio.

O EXTRA também traz dicas nos campos “Jurídico, de “Desenvolvimento” e “Design”.

Confira os passos

Jurídico – Fabio Cendão, sócio do escritório Faria, Cendão e Maia e organizador do evento Startup Weekend Rio, explica o campo “Jurídico”.

– Viabilidade: O empreendedor deve buscar auxílio para verificar se sua proposta está respaldada em lei e se é uma atividade regulada. Em negócios inovadores, muitas vezes temos que lidar com alguns obstáculos (e isso é válido), mas é preciso estar ciente dos riscos jurídicos.

– Sociedade: Briga de sócios é uma das maiores causas de insucesso de startups. Assim, o empreendedor precisa se preocupar em ter formalizada com os demais sócios a relação jurídica entre eles, da forma mais completa possível, mesmo antes da constituição da sociedade. Isso pode ser feito por um documento chamado Memorando de Entendimentos.

– Contratos: O empreendedor precisa de contratos bem feitos com seus stakeholders (todas as pessoas envolvidas no negócio, de parceiros a clientes). Mesmo em negócios online, é preciso elaborar documentos como Termos de Uso e Política de Privacidade, que forneçam segurança à startup. Contrato mal elaborado ou ausência dele deixa o empreendedor em cenário de insegurança.

– Propriedade: Outro ponto fundamental é a propriedade intelectual. O empreendedor deve buscar proteger invenções, direitos autorais e marcas, de modo a evitar problemas futuros. Uma marca não registrada, por exemplo, pode fazer com que o empreendedor tenha que reformular toda a identidade visual.

Desenvolvimento – Os tópicos no campo de “Desenvolvimento” foram formulados por Marcelo Roque, fundador da FINXI, empresa que constrói soluções de tecnologia e negócios para o lançamento de empresas e startups.

– Tecnologia: Gestão e linguagem de tecnologia são muito complicadas para quem não é da área. Muitas empresas morrem justamente porque acabam investindo de maneira errada, achando que programadores vão entregar tudo como desejado em três meses. Ter um gestor de TI ou um sócio de tecnologia com experiência pode resultar em grande economia para concretizar sua ideia.

– Arquitetura: Para ter chegado até aqui, você já validou seu problema e começou a pensar em possíveis entraves que seu negócio resolverá. Agora, é importante começar a pensar na arquitetura tecnológica do que será feito. Da mesma forma que existe a planta baixa de uma casa, sua ideia precisa disso. Uma empresa de tecnologia poderá auxiliar nisso, desenhando o escopo.

– Valor: Ao desenhar uma ideia, todo empreendedor quer oferecer o máximo de funcionalidades e “frufrus” possíveis para seu cliente final. Mas isso é completamente errado. Priorizar os elementos diferenciais de sua ideia é muito importante. Se você quer sanar o problema de encontrar táxis de madrugada, por exemplo, seu aplicativo não necessariamente precisa informar que taxa será paga para ir de um local a outro. Apenas mostre onde está o táxi mais próximo.

– Feedback: Temos um universo muito grande de hipóteses e achismos que formamos em nossas vidas. Mas não é porque eu gosto de mergulhar o biscoito num copo d’água antes de comê-lo que todo mundo gosta, por exemplo. Converse com seu público-alvo constantemente durante o desenvolvimento da tecnologia para perceber se aquilo que está sendo feito realmente atende à demanda.

Design – Para a área de “Design”, as sugestões são de Ricardo Motta , desenhista de Experiência dos Usuários na empresa Hostintown (www.hostintown.com) e gerente de produto na Voiicr (www.voiicr.com) .

– Marca: A logomarca tem que ser capaz ou se aproximar muito de traduzir a proposta de valor da ideia ou da empresa que está sendo criada. Para isso, é preciso usar elementos e imagens que façam referência ao produto ou ao serviço oferecido. Por mais que seja intuitiva, essa percepção ainda precisa ser testada, por meio de apresentações e pesquisas.

– Comunicação: A maneira como a identidade visual da marca envia a mensagem a seus clientes — em sites, aplicativos, anúncios ou outros canais — precisa ser estudada com cuidado. Mensagens devem ser diretas e falar a língua do público. Você não pode ser informal ao falar com juristas, por exemplo. Um negócio jovem, porém, possibilita um ambiente mais divertido e com linguagem despojada.

– User Experience (UX): Facilitar o uso de suas soluções pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma aplicação web ou mobile. Para isso, a empresa deve criar uma experiência digital agradável, com uma rota lógica e fácil para o acesso ao que é desejado. É preciso também considerar os conhecimentos prévios dos usuários, para não entrar em conflito com funcionalidades já conhecidas por eles no mundo digital.

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