A sessão de ontem da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) parecia apenas mais uma, entre tantas, na rotina dos parlamentares, mas pairava no ambiente o peso de uma pergunta repetida há dias — e ainda sem resposta: “Quem indicou Cezar Daniel Mondego de Souza e Eduardo Sobreira Moraes para cargos na Assembleia?” Os dois, presos desde terça-feira, são investigados por participação na morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo, assassinado no centro do Rio.
A lista dos 12 projetos em pauta incluiu a concessão da Medalha Tiradentes para Marcos Vinicius Vasconcelos (o jovem que salvou mãe e duas filhas em um temporal na Baixada, em fevereiro) e a instituição do “Dia Estadual da Cavalgada”. O que mais chamou atenção, no entanto, foi a instalação de uma espécie de cercadinho, com grades separando jornalistas e assessores do espaço ocupado pelos 70 deputados. Também causou estranheza a presença de seguranças que impediam a movimentação pela escada, entre os andares da Casa, além da ida aos gabinetes. Até uma simples ida ao banheiro era motivo de “escolta”.
A mudança de hábito aconteceu um dia depois de o presidente Rodrigo Bacellar (União) ser procurado, no plenário, para responder à pergunta fatídica.
Bastidores quentes
A demora na resposta já instiga boatos nos bastidores. Ontem, pelas redes sociais, o ex-governador Anthony Garotinho ligou Cezar Daniel ao ex-deputado Marco Antônio Cabral, que tem cargo na Alerj e ganha R$ 9 mil mensais líquidos. Os dois aparecem juntos em uma foto de campanha de Cabral nas eleições de 2022.
Ao GLOBO, o ex-deputado negou que tenha indicado qualquer um dos dois ao cargo e afirmou que vai processar Garotinho, que é rival político da família Cabral e de Bacellar.
— Nunca indiquei ninguém para cargo na Alerj, até porque não tenho nem como fazer isso. Fui convidado no início do ano passado para trabalhar lá — disse.
Na Assembleia, Marco Antônio Cabral atua diretamente na presidência junto a Rodrigo Bacellar. Uma de suas principais funções é trabalhar na articulação e no atendimento a prefeitos e vereadores que buscam o gabinete do presidente da Casa.
Cezar Daniel Mondego de Souza ocupava cargos no governo do estado desde 2008, e, desde 2019, estava na Alerj. Lá, foi nomeado na Direção de Patrimônio da Casa e exonerado, a pedido, na quinta-feira passada. No mesmo dia, Eduardo Sobreira foi indicado para substituí-lo, mas teve a nomeação revogada quando a suspeição de seu envolvimento no crime tornou-se pública.
A questão incômoda envolve outros nomes. O diretor de Patrimônio, Luiz Antônio Rocha de Assumpção Filho, foi nomeado para o cargo em maio do ano passado. Ele deixou a vaga de assessor na Presidência para Susana Neves Cabral, ex-mulher de Sérgio Cabral Filho e mãe de Marco Antônio Cabral. Rocha já foi vereador em Valença, no Sul Fluminense, e candidato a deputado estadual em 2014.
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Situação inédita
Ontem, o presidente da Alerj não atendeu a imprensa. A sessão começou com atraso de 30 minutos, e Bacellar deixou o plenário, passando a presidência para Manoel Inácio Brazão (União), 1º vice-presidente da Casa. Nem em votações polêmicas, como a que autorizou o retorno da deputada Lucinha (PSD), a medida foi tomada. O GLOBO apurou que a determinação de cercar o plenário foi do presidente da Alerj, para evitar abordagens inesperadas.
O deputado estadual Carlos Minc (PSB), decano da Casa, disse ter estranhado a nova composição.
— Nunca tinha visto o cercadinho. Perguntei a funcionários e a alguns deputados e ninguém conseguiu me explicar o motivo de ter sido instalado — contou.
Em nota, a Alerj informou que a instalação é “medida de forma provisória, que tem a função de organizar e otimizar melhor o espaço e a circulação no plenário, delimitando a área reservada a deputadas e deputados. Isso ocorre em outras casas legislativas e demais órgãos públicos.”
De acordo com a polícia, Cezar e Eduardo monitoraram a vítima ao menos três dias antes da execução e também no dia do crime. Para seguir Rodrigo Marinho no percurso feito da casa onde morava, na Lagoa, Zona Sul do Rio, até o escritório, no Centro, a dupla teria usado um Gol branco com as mesmas características de outro veículo usado pelos executores.
Advogado é executado no Centro do Rio :
Um advogado foi assassinado próximo à sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na Avenida Marechal Câmara, no Centro do Rio, na tarde desta segunda-feira.
A vítima foi identificada como Rodrigo Marinho Crespo. Ele é sócio do escritório Marinho e Lima Advogados.
A vítima estava na calçada quando foi atingida. O crime aconteceu por volta das 17h, a cerca de 50 metros da sede da OAB.
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