Má conservação, demora e reclamação: empresas de ônibus criticadas por Paes enfrentam recuperação judicial e dívidas

“Os dois maiores desafios” no transporte de ônibus do Rio estão na Zona Oeste e na Ilha do Governador, afirmou o prefeito Eduardo Paes ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo, na manhã desta segunda-feira. Na ocasião, Paes comentava a manhã caótica do primeiro dia útil de operação dos novos ônibus da Mobi-Rio, empresa pública que opera o BRT, no corredor Transoeste, quando disse ter sido impedido pela Justiça de alugar coletivos para resolver o problema nessas duas áreas da cidade. Segundo o prefeito, a solução foi optar pela compra de novos veículos para operar em “algumas áreas”, sem detalhar quais.

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— Os dois maiores desafios que a gente tem aqui são a Ilha do Governador, com a tal da Paranapuan, que é uma vergonha, e Zona Oeste. Na Zona Oeste, a gente tem as empresas muito deficitárias. Eu vou dar em primeira mão pelo “Bom Dia Rio”. A gente tentou fazer um aluguel de ônibus. As empresas não prestam serviço, mas evitam que a prefeitura preste. Acreditem se quiser, entraram na Justiça para impedir a prefeitura de licitar para alugar linhas de ônibus, para substituir essas linhas. O que acontece: estou comprando ônibus, e a Mobi-Rio vai começar a operar em algumas áreas. Se a empresa não quer cumprir, vamos nós fazer — disse Paes ao telejornal.

Criticada por Paes, a operação da Transportes Paranapuan envolve linhas que saem de bairros da Ilha do Governador em direção ao Centro e à Zona Norte da cidade. Passageira frequente da empresa, a maquiadora Gabrielly Martins, de 22 anos, mora no Cocotá e, no último dia 1º, compartilhou a imagem de um veículo da linha 323 (Bananal—Castelo) com as rodas danificadas, reclamando que “do nada, o ônibus freou bruscamente”, ocasião em que machucou o braço.

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A publicação teve mais de 119 mil visualizações no X (antigo Twitter), e fez com que a autora do tuíte recebesse relatos de outros moradores da Ilha do Governador, que reclamaram do serviço da empresa.

— São ônibus totalmente sucateados, que sempre enguiçam e nos deixam na mão. No dia do meu post, foi a primeira vez que estive em um acidente com esses ônibus, foi terrível. Eu bati meu braço e fiquei com ele roxo, uma menina comentou no meu post que bateu a cabeça e torceu o pé, e um senhor de idade, que usava muletas, caiu com o impacto do ônibus e se machucou. Só conseguiu se levantar com ajuda e ficou totalmente assustado — detalha a jovem, que diz sempre precisar sair com antecedência de casa para “ter certeza que vai chegar na hora”, em referência à demora.

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As queixas quanto à operação se somam a outro problema da Paranapuan: a empresa de ônibus é, entre todas as operadoras da capital, a que mais têm dívidas. Segundo consulta no sistema da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, o valor está em R$ 123,46 milhões.

A Real Auto Ônibus aparece em segundo, com R$ 81,67 milhões em dívidas, seguida por Viação VG (R$ 78,07 milhões), Transportes Campo Grande (R$ 72,95 milhões) e Expresso Pégaso (R$ 67,06 milhões) . Outras onze empresas acumulam dívidas entre R$ 16 mil e R$ 46 milhões.

Na Zona Oeste, ainda tem recuperações judiciais

Outra região da cidade citada por Paes como “deficitária” é a Zona Oeste. Por lá, dois consórcios operam as linhas: Transcarioca, na região de Jacarepaguá, Barra e Recreio; e consórcio Santa Cruz, nas áreas de Bangu, Campo Grande e Santa Cruz.

O Consórcio Santa Cruz é ainda o que mais tem empresas em recuperação judicial em atividade, metade das suas seis integrantes: Transportes Campo Grande, Expresso Pégaso e Auto Viação Palmares. Pelo restante da cidade, outras quatro empresas estão na mesma situação — Viação VG, Viação Pavunense, Real Auto Ônibus e Transportes Vila Isabel — distribuídas pelos outros três consórcios da cidade.

Em agravo ao cenário de crise, no último mês de outubro, 35 coletivos foram incendiados após a morte do miliciano Matheus da Silva Rezende, o Faustão, em Santa Cruz: 19 deles pertenciam ao Consórcio Santa Cruz, o mais afetado.

Morador de Santa Cruz, o operador de caixa Rafael Monteiro, de 30 anos, conhece bem os problemas da Zona Oeste. Ele afirma que o serviço prestado na região é precário, com ônibus velhos, e que ainda concorre com as vans.

— Isso atrapalha. Você se atrasa para o trabalho, perde compromisso e fica sem horário para chegar em casa. Depois de 21h, não tem mais ônibus, e a gente fica a mercê do transporte alternativo — diz Rafael, que atualmente administra um grupo no WhatsApp com passageiros do seu bairro.

Sobre o anúncio de Paes da compra de ônibus pela Mobi-Rio, o Rio Ônibus, sindicato que reúne as empresas do setor da cidade, informou por meio de nota que enquanto prestador de serviço, participa de reuniões semanais com a SMTR a fim de concretizar outras melhorias e tratar dos demais assuntos operacionais.

O sindicato alega que o setor de transporte por ônibus ainda sofre os efeitos da pandemia que culminou com pedido de recuperação judicial de 11 empresas, e que apesar das dificuldades, o acordo judicial firmado entre consórcios, prefeitura e MPRJ viabilizou o início da retomada da qualidade do serviço prestado.

Segundo o Rio Ônibus, nos últimos 18 meses, mais de 1.150 ônibus foram renovados, mais de 90 linhas voltaram a circular e 83% da frota está refrigerada.

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