A nova tendência de viagem? Estadias mais longas em menos destinos

Em agosto de 2024, o diretor de um anúncio de turismo viral sobre Oslo, na Noruega, declarou à BBC que sempre preferiu se sentar para tomar leite à mesa da cozinha de alguém a se aventurar em armadilhas para turistas.

Aquele, na verdade, foi o verão do retorno do turismo no hemisfério norte. E, sem dúvida, os turistas foram longe demais.

Muitos destinos populares sofreram com problemas de superlotação e o mau comportamento dos viajantes.

O desejo de viajar parece não estar diminuindo. Mas especialistas do setor afirmam que os turistas planejam fazer estadias mais longas em 2025. Eles procuram soluções para passar o máximo de tempo possível longe de casa e do trabalho, imersos em um único destino.

Segundo o relatório 2025 Travel Outlook, do portal Skift Research, as empresas de turismo preveem um aumento de 24% do número de viagens planejadas para este ano, em comparação com 2024.

Em todo o mundo, longas viagens de lazer se destacam como o tipo mais popular de férias, em comparação com as escapadas de fim de semana e viagens rodoviárias.

O relatório da Skift chama 2025 de “o ano das escapadas longas”, particularmente na China, Índia e Alemanha.

Nos Estados Unidos, um quarto dos participantes respondeu que espera fazer uma longa viagem internacional ou transcontinental este ano, mas uma parcela um pouco maior espera fazer viagens mais curtas.

“Os turistas estão cansados do frenesi de tirar fotos em locais turísticos cheios de gente ou hotéis famosos, apenas para dizer que estiveram ali”, explica Julia Carter, fundadora da agência de viagens de luxo Craft Travel. “Agora, eles reconhecem cada vez mais que, quando o assunto é viajar, seu destino só ganha vida quando você reduz a velocidade.”

Esta maior lentidão está aumentando o tempo médio de viagem dos turistas de luxo para perto de duas semanas, segundo o relatório Luxury Travel da Zicasso, outra empresa de planejamento de viagens de alto padrão.

O fundador e CEO (diretor-executivo) da empresa, Brian Tan, declarou à BBC ter “notado um aumento contínuo da duração média das viagens para 13,5 dias e do número de turistas que preferem viagens personalizadas para um único destino, onde podem explorar a cultura local com mais profundidade, em vez de viajar para diversos países”.

O aumento da duração das viagens tem sido lento (a média foi de 13,4 dias em 2024), mas o relatório destaca que 76,2% dos participantes preferem viagens para um único país em 2025. A Zicasso qualifica esta conclusão de “tendência à profundidade no lugar da amplitude, nas experiências de viagem”.

Dedicar mais tempo a conhecer um único destino é a tendência atual entre os turistas

Se buscar uma cafeteria silenciosa ou uma visão fotogênica entre uma reunião e outra contar como profundidade, o relatório da Skift também indica um aumento das chamadas “viagens combinadas”, que reúnem trabalho e lazer.

Na Índia, a imensa maioria dos participantes (92%) respondeu que pretende fazer viagens combinadas. Na China, foram 84%.

Logo depois, vem a Alemanha (onde 79% dos participantes responderam que pretendem combinar trabalho e férias em 2025), seguida pelos EUA e pelo Reino Unido (ambos, 72%).

Em relação às viagens em geral, os principais destinos globais na lista dos turistas americanos este ano, segundo a Skift, incluem a Inglaterra, Japão, Paris, Itália e México. Já os britânicos esperam visitar Dubai, Paris, Itália, Espanha e os Estados Unidos.

Uma forma de aumentar o tempo das viagens mais longas é usar a prática do banco de horas. O planejamento estratégico das férias com uso do banco de horas do trabalho perto de feriados nacionais ganhou enorme popularidade no TikTok, com vídeos explicando quais os melhores dias para maximizar a duração das viagens em 2025.

Com isso, os turistas podem ampliar seu tempo fora de casa. Esta técnica é particularmente útil em países como os Estados Unidos, onde o trabalhador em tempo integral recebe, em média, 11 dias de férias remuneradas por ano.

Um dos vídeos do TikTok viralizou no final de 2023 e produções similares se multiplicaram pelo aplicativo no início da temporada de planejamento de viagens deste ano. Elas foram seguidas por diversas reportagens, disponíveis nos mecanismos de busca.

A revista Travel & Leisure ensina a transformar 11 dias de férias em 44 dias de viagem e a Forbes ajuda os profissionais com 15 dias de férias anuais a passar 55 dias fora.

Nos últimos tempos, mais turistas passaram a ‘enforcar’ os feriados para tornar pequenas viagens mais longas

“Muitos estão observando quando serão os feriados oficiais e tirando suas férias em torno desses dias, como o Dia do Trabalho”, explica Paul Charles, CEO da The PC Agency, uma consultoria de marketing de turismo e relações públicas.

“As companhias aéreas também oferecem pacotes melhores se você fizer viagens internacionais em torno dos feriados oficiais, incentivando os americanos a viajar para o exterior e não apenas dentro dos Estados Unidos”, nessas épocas do ano.

Tudo isso vem de encontro a outra tendência, destacada no relatório da Zicasso: o aumento do número de turistas que preferem as estações intermediárias em 2025, como a primavera (talvez incluindo a semana de quatro dias do Memorial Day, nos Estados Unidos) e o outono, no lugar do pico do verão dos anos anteriores.

Uma dessas viajantes, a colombiana Carolina Santos, é proprietária de uma empresa de bem-estar nos Estados Unidos. Ela relembra com carinho as longas viagens que fez para o Nepal e a Índia.

“Viagens mais longas me dão tempo de realmente imergir na cultura e ter conversas mais profundas com os moradores locais sobre suas vidas, costumes e tradições”, ela conta à BBC.

“Elas me permitem explorar com mais lentidão, sem a correria de um itinerário fixo. Os dias passam naturalmente, revelando o ritmo autêntico do dia a dia dos lugares que visito.”

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.

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