Há uma década, Joe Jimenez vendia ketchup e feijão enlatado. Agora, ele recorre à tecnologia de jogos da Microsoft Corp. e incorpora sensores do Google Inc. em lentes de contato para reinventar a maior fabricante de remédios do mundo.
Como CEO da Novartis AG, Jimenez está avançando em caminhos desconhecidos na fronteira entre a biologia e a tecnologia digital para se preparar para um futuro em que o uso de smartphones e de outros aparelhos digitais para monitorar a saúde será chave para receber o pagamento pelo produto.
Jimenez também está abalando o império construído por seu exuberante antecessor, Daniel Vasella, com um complexo swap de ativos no valor de mais de US$ 30 bilhões fechado neste mês. Deixando de lado as vacinas e adicionando medicamentos contra o câncer, o ex-nadador profissional, de 55 anos, está preparando a Novartis para a perda de patentes de remédios que constituem um quinto de suas vendas.
“Nossa perspectiva precisa se basear em como o cuidado com a saúde vai mudar”, disse Jimenez em uma entrevista na sede da empresa, na Basileia, Suíça. “Se você analisar o que levou à transformação pela qual acabamos de passar, você verá o que vai acontecer externamente em dez anos”.
Os projetos e produtos incluem comprimidos e inaladores equipados com sensores que delatam pacientes que pularam uma dose; testes clínicos que empregam o Kinect, da Microsoft, a tecnologia de sensores de movimentos do Xbox, para medir a velocidade de caminhada e o equilíbrio de pessoas com esclerose múltipla; lentes de contato Google que fazem foco automaticamente e podem deduzir os níveis de açúcar no sangue de diabéticos a partir das lágrimas ? uma aposta que, segundo Jimenez, poderia revolucionar a visão.
Passos prudentes
“Há dez anos, a Novartis não teria adotado a equipe que levou o acordo adiante”, disse o americano, que dirigia as operações europeias da H.J. Heinz Co. antes de entrar na fabricante suíça de medicamentos em 2007.
Vasella construiu a Novartis através de aquisições e de um punhado de sucessos, como Gleevec, um remédio contra leucemia que acumulou US$ 4,7 bilhões em vendas no ano passado, mas enfrentará um rival genérico em fevereiro do ano que vem. Jimenez, que assumiu o cargo de CEO em fevereiro de 2010, começou dando passos prudentes, como a compra da unidade oftalmológica Alcon e os cortes nos custos, enquanto Vasella continuava sendo presidente do conselho.
Oito meses depois de Jörg Reinhardt ter substituído Vasella no conselho em agosto de 2013, Jimenez anunciou um conjunto de negócios em que a Novartis vendeu vacinas à GlaxoSmithKline Plc, adquiriu a equipe de remédios contra o câncer da empresa farmacêutica com sede em Londres e as duas rivais uniram forças em produtos de venda livre, como o remédio para dor de cabeça Excedrin e as pastas de dente Sensodyne, em uma joint venture. A Eli Lilly Co. comprou a unidade veterinária da companhia suíça.
Além dos comprimidos
Jimenez incrementou os gastos em pesquisa e desenvolvimento na unidade farmacêutica em 25 por cento durante seus cinco anos no comando, um aumento que só fica atrás dos 64 por cento da Johnson Johnson entre as cinco maiores fabricantes de remédios do mundo. Além de assegurar que os pesquisadores da Novartis tenham fundos e autonomia, Jimenez disse que está trabalhando para cultivar um ambiente em que eles se sintam livres para assumir riscos ? mesmo que isso signifique admitir fracassos.
Para Jimenez, a iniciativa digital consiste em se preparar para o dia em que os gastos de saúde pública serão tão exigentes que só se pagará às fabricantes de remédios quando elas demonstrarem que o estado do paciente melhorou. Isso significa oferecer uma tecnologia para provar que o tratamento funciona. A Novartis está planejando cerca de dez projetos-piloto, entre eles uma parceria com o Google, no Reino Unido, elaborado para testar um reembolso condicional no tratamento de insuficiência cardíaca, mediante um sistema de monitoramento remoto dos pacientes em conjunto com o remédio LCZ696.
“Gostaríamos de entrar com um pacote de serviços, os farmacêuticos, a tecnologia que ajudará o paciente a seguir o tratamento e um sistema de alerta que avisará se o paciente não está cumprindo”, disse Jimenez. “Vamos precisar fazer parcerias com empresas que tenham interesses afins no campo tecnológico”.
Fonte: Bloomberg